domingo, julho 12, 2009

O discurso do poder na perspectiva estética


Três são os grandes discursos de poder com influência e força social: o discurso político, o discurso dos meios de comunicação e o discurso da ciência e da tecnologia. Uma é a ação, mais importante que os discursos, e que dominará esta atualidade reposicionando poderes: a conexão.

O discurso político se referencia ao poder, quando pela intenção de construção ou modificação dos fatos sociais e econômicos em uma determinada ambiência. Ao ser ação o discurso político intervém em toda nossa relação com a realidade física que habitamos.

O discurso dos meios de comunicação lida com a formação ou deformação da opinião pública querendo formatar um maior público comum através da sua visão dos fatos e idéias. O discurso dos meios obedece a fatores e interferências externas imponderáveis e perdeu, em algum lugar do passado, a possibilidade de intermediar os anseios da comunidade junto ao poder político. Definiu,assim, a sua preferência por um atuar voltado para seus fins mostrando ao público sua versão como um espetáculo; optou por transformar-se em um palavreado oco que quer moldar opiniões em assuntos cada vez mais miúdos.

Como os outros, o discurso da ciência e tecnologia e inovação é só uma peça de informação. É um discurso de poder por conta da esperança que coloca no melhor destino do homem. A sua preleção sobre a sociedade da informação para todos é uma intrincada condição técnica de distribuição do saber limitada pelo conhecimento que possa gerar; é, portanto, utópica quando quer o conhecimento partilhado por todos. A sociedade do conhecimento nada tem a ver com a sociedade da informação, pois uma vai por um protocolo técnico e a outra se guia por uma grande esperança.

Os estoques de informação permitem a infraestrutura dos discursos da ciência da técnica e este quantum é organizado e gerenciado por especialistas em faina diária e rotineira. Estes possuem a chave dos acervos para o conhecimento e conhecem as rotas de sua distribuição, mas não possuem qualquer poder.

Mas, em um mundo cada vez mais totalizado, a velocidade real das trocas online determina o vigor de uma ação de conexão que reposiciona poderes. Estima-se que dois bilhões de pessoas e coisas como, Celulares, Bancos, Universidades, Aeroportos, Governos estejam interligados via web. Estamos vivendo, na maior parte do tempo, conectados em um ciberespaço que nada tem a ver com as condições da realidade fundeada em que habitamos dentro duma perspectiva demarcada por cada uma das nossas formas de receber sensações.

O ciberespaço é uma nova realidade, com uma nova forma de perspectiva, denotando uma arte de representar coisas em um plano onde os estados de espírito tem outro caráter estético. Não é semelhante a perspectiva audiovisual que já conhecemos é uma inovação de ponto de vista que não se assemelha a nada que conhecemos. É uma perspectiva livre de qualquer referência anterior carregada de profunda vivência pessoal podendo suscitar em outros um desejo de prolongamento ou renovação continua.

O linguagear dos conectados que acontece nesta realidade não é padronizado e opera em comunidades, que trocam enunciados para uma possível finalização com afetividade organizacional mais que um poder central.

Esta enunciação em conexão é um dialogo social livre e em réplica, um discurso interior que se exterioriza no espaço cibernético, mas que não existe fora de um contexto de troca entre seres humanos. Esta nova perspectiva mudará todos os discursos e formas de poder.

Aldo de A Barreto


*Como seres humanos, vivemos imersos em um fluir incessante de ações que Humberto Maturana chama de "linguagear". A linguagem é usualmente entendida como a transmissão de informação simbólica. Mas, em seu trabalho, Maturana deixa o conceito de informação completamente de fora; diz que os símbolos são secundários ao ato de linguagear que é essa coordenação de condutas. Então, o linguagear é um modo de viver caracteristicamente humano, no qual somos imersos ...... Em Vaz,M.N. - O Linguagear é o modo de vida nos trabalhos humanos, Revista Ciência e Cultura da SBPC, número 60, especial 1, julho de 2008

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