domingo, maio 17, 2009

Estoques em labirinto e fluxos de conhecimento





”Um labirinto é uma defesa,
muitas vezes uma defesa mágica,
para guardar um centro, um tesouro
um significado” (4)


Em meu trabalho nestes anos acredito que a informação, como partícula ou como uma onda, sintoniza o mundo, pois referencia o homem ao seu passado histórico, às suas cognições prévias e aos seus espaços de convivência colocando-o em um ponto do presente, com uma memória do passado, mas tendo uma perspectiva do futuro.


Independente de qualquer avaliação de qualidade, estoques de informação serão sempre acervos estáticos e sem condição de movimento: são recursos aterrados para uma ação de conhecimento, que ocorre quando, depois de disseminados por uma transferência há uma aceitação cognitiva. A sua condição de estática expectativa fica revelada em nosso falar atual: -Vou entrar em um arquivo; a idéia de viagem e de ingresso em direção no local da informação mostra a circunstância da serena espera dos estoques para possibilitar uma ação maior.

Nessa possibilidade estoques de informação podem criar conhecimento na consciência do individuo desde transferidos e elaborados em um saber acumulado de cognições
previas. Mas as figuras do estoque e do saber denotam serenas e estática espera.

Já o conhecimento é um fluxo de eventos que utilizando o saber acumulado entrelaça fragmentos para formar algo novo e que se agrega ao fim deste movido percurso. O conhecimento é viajante e desaparece após cumprir sua finalidade como uma onda que agitou partículas de informação em descanso.

Entrar em um arquivo expõe a condição de labirinto dos castelos da memória. O viajante em um arquivo nunca tem uma visão de cima para baixo, para como um ser avoante, ver as tramóias, os caminhos certos para a informação desejada. Há que se percorrer as alamedas para conhecer o labirinto.

O labirinto tem maquinações mágicas: ou é o visível, como um espaço que delimita o que está aparente e é conhecido normatizado e aterrado em uma realidade sensível, ou é, o recinto do invisível na potencialidade não regulada ou espacializada do trançado das coisas que defende e guarda. No labirinto o Minotauro denota e defende os conteúdos já estabelecidos e conduzidos pelo fio que o fluxo do conhecer permitiu encontrar e estruturar. No labirinto da consciência o saber é estoque o conhecimento é fluxo e o minotauro o esconderijo mágico dos significados. (3)

Se o labirinto fosse desenroscado teríamos entre as mãos um único fio: o fio de Ariadne que mostra ou evoca os eventos na formação dos significados. Pois significados nascem, se reafirmam ou morrem, quando substituídos por cognições modificadoras. O minotauro durante os eventos de um novo fluxo luta mas se aquieta para uma nova formatação das apropriações. E renasce como outra assimilação interiorizada pelo individuo.

Assim, o labirinto visível, indica escolhas alternativas, quando os caminhos convergem a um ponto focal e estável de mudança dentro do espaço aterrado e regulado do acervo percorrido. Se desenrolado pelo fio de Ariadne, o labirinto visível toma a forma de uma árvore, com diversos pontos de convergência formados pelos conteúdos que elaboramos e incorporamos nesta realidade teritorializada.

Mas no labirinto invisível é como uma onda de partículas que se animou no emaranhado mágico em que cada ponto pode ter conexão com qualquer outro ponto. Não é possível desenrolá-lo com o fio de Ariadne, pois não tem interior ou exterior estabelecido. Pode ser finito ou infinito e em ambos os casos cada uma das partículas de sua formação pode ser ligada a qualquer outra e o seu próprio processo de conexão é um contínuo processo de correção destas conexões.

É um Dédalo sempre ilimitado e sua estrutura fica sempre diferente da estrutura que era no momento anterior permitindo a cada vez ser percorrido segundo trilhas diferentes. É o labirinto das ondas digitais da informação em rede, do minotauro modificador e formatado na intertextualidade. Das estruturas interconectadas onde o conhecimento fluxo opera por associações de um pensamento divergente para formar significados em um mundo sem terrenos.

Se a Informação e o saber são estoques e o conhecimento é um fluxo seria conceitualmente inapropriado confundir uns com os outros, pois um é o viajante e outro a estrada, um é um fantasma evanescente da coisa que quer passar, o outro a coisa em si.


Então, Odes ao Minotauro

"Como será meu redentor? Me pergunto.
Será um touro ou um homem?
Será um touro com cara de homem?
Ou será como eu?
O sol da manhã rebrilhou na espada de bronze.
Já não havia qualquer vestígio de sangue.
Acreditas Ariadne? -disse Tseo.
O Minotauro apenas se defendeu" (1)

pois,

“ao morrer
o minotauro chora
chora como uma criança
por fim se enrosca
como um feto e se aquieta
no definitivo
da morte “ (2)


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1 – J.L.Borges, A Casa de Asterion, Aleph
2 - o Minotauro morre é do poeta Paulo Leminski
3) conceitos de labirinto visível e Invisível foram tirados de El Minotauro en su Laberinto
http://www.apostadigital.com/revistav3/hemeroteca/yidy1.pdf
de Yidy Páez Casadiegos, Revista Aposta, No. 3, Diciembre 2003
4) The Art of Pilgrimage: The Seeker's Guide to Making Travel Sacred, Por Phil CousineauPublicado por Red Wheel, 2000

2 comentários:

Anônimo disse...

Prof. Aldo Barreto,
Aceitei o convite "viaje comigo" feito aos seus seguidores do Twitter. Postei comentários ao seu texto em meu blog (http://alegaldo.com). Não sei se minha viagem foi muito longe, mas se a ideia dos blogs, twitter e demais ferramentas 2.0 é compartilhar informação, saberes, conhecimento e "viagens", vou junto nessa interação e construção coletiva da rede!
[]s, Alessandra Galdo

Anônimo disse...

Desculpe Prof.
Acabei não mandando o link: http://alegaldo.com/2009/05/17/mitologia-e-informacao/