domingo, maio 24, 2009

Comunicação simbólica entre criaturas reais e artificiais



Um processo de inovação é diferente do que seja a configuração de uma nova tecnologia; a nova tecnologia corresponde a uma sucessão de eventos coesos e em conjunção com originais técnicas, processos, métodos, para uma ação de transformação de coisas e idéias. Já a inovação é a difusão e a aceitação desta tecnologia pelos habitantes de um determinado espaço. Se as tecnologias, por exemplo, forem as de informação a inovação poderia ser a aceita e estabelecida Internet que proporciona um fluxo mais livre de informação no espaço considerado.

A informação livre melhora o homem e sua realidade. Se a informação é a mediadora do conhecimento aprisionar ou não entender suas elaborações simbólicas é como aprisionar o potencial conhecimento. Se a introdução da novidade não me atinge por qualquer razão, que não seja meu livre arbítrio, ela não acontece em mim. Então, de que adianta esta luz se ela não brilha em mim já dizia Agostinho em suas Confissões. Só eu posso decidir e aceitar a novidade da informação.

Acredita-se que o processo de elaboração do pensamento para a geração de conhecimento ocorre no cérebro humano, mas a ciência não descobriu ainda os mecanismos biológicos que o qualificam. Pensamos que as apreensões simbólicas que acontecem na mente humana podem ser entendidas por analogia com o processamento da informação na computação eletrónica. O pensamento humano pode ser simulado em máquina através do processamento da informação.

Existe uma hipótese de operacionalização do sistema simbólico entre seres artificiais.* Esta não supõe substituir chips por neurónios ou confrontar circuitos integrados com a mente humana. Supõe que, de maneira fisicamente diferente, símbolos podem ser representados por padrões eletromagnéticos de um computador. Neste nível simbólico, o computador pode simular os símbolos armazenados e processados na mente. Os processos básicos são muito semelhantes. Um computador pode processar informação como, enviar e armazenar símbolos na memória combiná-los e reorganizá-los em novas estruturas e compará-los para qualificação, de acordo com regras programadas, utilizando para isso, um processador, uma memória de longo prazo e uma memória operacional de curto prazo. Tudo confrontável ao sistema humano de elaboração da informação e sua interiorização consciente.

Estas premissas conceituais são utilizadas, também, no processo de análise da significação do conteúdo de textos **, como consequência de procedimentos de interatuação de um receptor para elaboração do pensamento. A interpretação do significado do conteúdo de um texto pode ser pensada, também, como um fluxo mecânico de intenções com premeditação programada do receptor máquina ao interagir com a estrutura de informação.

Quando um receptor humano interage com um texto, significados são evocados, chamados de algum lugar, transferidos de um ponto para outro em um fluxo com uma intenção de entendimento deste texto; ou seja, determinados símbolos ou estruturas de símbolos que estão armazenadas na memória vêm à consciência. São transferidos da memória de longo prazo para a memória de curto prazo, para a apreensão simbólica do leitor que interpreta o texto.

Este mecanismo de reconhecimento seleciona um significado e toda a informação a ele associada; assim, um conceito que é evocado para a atenção do receptor pode estar associado a uma considerável quantidade de outros conceitos coligados, dependendo da qualidade da memória acessada e do contexto do texto.

A qualidade da memória e o contexto do texto implicam direta ou indiretamente na complexidade de associações que podem ser feitas. A evocação do conceito “casa”, por exemplo, pode trazer por recognição conceitos como: habitação, morada, edifícios, cidade, lar, família, pais, filhos, casamento, proteção, felicidade, etc.

Esta associação de conceitos em uma interatuação com a narrativa está geralmente conectada a elementos como:

- contexto do texto, enquanto estrutura de informação;
- contexto particular do sujeito, no tempo e no espaço de interação com o texto;
- desvio cognitivo ocasionado pela privacidade do receptor;
- estoque de informação do sujeito; qualidade da memória do leitor no contexto do texto;
- competência simbólica do receptor em relação ao código linguístico no qual o texto se insere;
- contexto físico e cultural do sujeito que interpreta o texto.

O significado dos enunciados está interligado em uma relação entre a informação e a memória do receptor em seus contextos de relembrança e esquecimento. Na interpretação da informação, o receptor fica liberado de toda intenção do emissor. Uma mesma informação pode ter diferentes significados para diferentes pessoas ou para a mesma pessoa em diferentes tempos e espaços.

Esta estrutura simbólica pode ter múltiplos sentidos. Estes eventos do fluxo de interligações que produzem o conhecimento podem gerar no sujeito alguma coisa nova ou podem modificar alguma coisa já existente ou, ainda, consolidar um conhecimento já adquirido. O consolidar do novo deve provocar um esquecer o antigo.

Pois, tanto "Salomão disse: "Não existe coisa nova na terra". Então Platão imaginou: "o conhecimento não é mais que uma relembrança"; daí Salomão apresentou sua sentença: "toda novidade é um esquecimento". ***

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* Angelo Loula e outros, “Comunicação Simbólica entre Criaturas Artificiais”
http://www.dca.fee.unicamp.br/projects/artcog/files/wtdia04-loula-4248.pdf

** SIMON, H. “Literary criticism: a cognitive approach”. Stanford Humanities Review, v.4, n.1, 1995. < http://www.stanford.edu/group/SHR/4-1/text/simon1.html >


***Bacon, Essay LVIII- “Of Vicissitude of Things”: Solomon saith, There is no new thing upon the earth. So that as Plato had an imagination, That all knowledge was but remembrance; so Solomon giveth his sentence, That all novelty is but oblivion

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